Patrícia Almeida
Publicado no Link To Leaders | 2 de junho de 2025

Nos últimos anos, o debate sobre a importância de diminuir o gender gap nas organizações, especialmente em cargos de liderança, tem ganhado destaque. Apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas, as mulheres continuam sub-representadas em posições de liderança, tanto no setor privado quanto no público. Este é um tema que vai além de uma questão de género, abrangendo a necessidade de uma mudança cultural nas organizações.

Os programas de mentoria têm-se destacado como uma estratégia eficaz para promover a igualdade de género de forma natural, sustentável e baseada em mérito.

Estes programas, que são cada vez mais frequentes no feminino, moldam as gerações futuras alinhando-as com os princípios de igualdade, respeito, responsabilidade e sustentabilidade, fundamentais para uma liderança de sucesso.

Embora as mentorias sejam comuns no ambiente de trabalho, a sua implementação desde cedo nas escolas poderia ser ainda mais benéfica. Afinal, os adultos são o produto de anos de educação enquanto jovens e crianças. As mentorias ajudam as mulheres a desbloquear crenças limitantes e a ultrapassar barreiras nas suas carreiras, para além de promoverem o desenvolvimento pessoal, essencial para qualquer cargo de liderança.

A igualdade de género não se constrói com quotas isoladas ou discursos ideológicos. A igualdade constrói-se com ações concretas, consistentes e colaborativas — e a mentoria pode ser uma dessas ações.

Ao longo da minha vida profissional, e através das várias mentorias em que tenho participado, tanto a nível pessoal como profissional, tenho constatado de forma clara que as jovens mulheres enfrentam desafios únicos no que diz respeito à confiança, à aversão ao risco e ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional — questões muitas vezes ainda rotuladas como "específicas do género" — que dificultam a sua progressão na carreira. Através dos programas de mentoria, contribuímos para ultrapassar esses obstáculos, oferecendo uma orientação personalizada em que as mentoras partilham as suas próprias experiências de superação e estratégias de sucesso. Desta forma, incentivamos as jovens a enfrentar o mundo profissional de forma mais assertiva e confiante, promovendo a sua ambição de alcançar posições de liderança nas organizações.

Os programas de mentoria desempenham, assim, um papel importante na construção de mentalidades positivas, resilientes e destemidas que ajudam cada uma destas mulheres a lidar e a ultrapassar questões profissionais e muitas vezes pessoais que inibem a evolução profissional.

Importa sublinhar que este não é um esforço que se esgote no “empoderamento feminino” – trata-se de uma mudança de cultura corporativa e organizacional, em que todos ganham.

A retenção de talento, os resultados financeiros e a reputação junto de clientes, investidores e parceiros são facilitados quando o género deixa de ser um tema. Cada um desempenha a função em que é brilhante, independentemente de género, raça ou qualquer outra classificação.

Acredito que, através destes programas dedicados a jovens mulheres, temos o poder de transformar a forma como elas se veem no mundo profissional e pessoal, contribuindo positivamente para a mudança nas organizações.

Seria excelente se já não estivéssemos numa fase em que o gender gap ainda é um tema, pois o foco estaria nos indivíduos e em libertar o melhor em cada um de nós. No entanto, acredito que estes programas são fundamentais para acelerar esta transformação nas empresas, permitindo colocar o foco na liderança de mérito, competência e dedicação.