Paulo Pena
Publicado na Executive Digest | 23 de abril de 2025
No contexto da era digital, a Inteligência Artificial (IA) destaca-se como uma força revolucionária, impulsionando avanços significativos em quase todos os aspetos da sociedade. O ritmo acelerado do seu desenvolvimento já superou marcos tecnológicos disruptivos anteriores, tornando essencial que os seus desafios éticos e sociais sejam enfrentados com a mesma seriedade que os benefícios que proporciona.
A promessa da IA para o bem-estar social é inegável. A sua capacidade de analisar grandes volumes de dados em tempo real permite resolver ou melhorar desafios relacionados com a qualidade de vida de cada um de nós, bem como desafios globais de maior dimensão, como as alterações climáticas. Um exemplo é a criação de digital twins (gémeos digitais), representações virtuais detalhadas do mundo físico, modelos que são usados para otimizar políticas de gestão ambiental e urbana. Na cidade de Kiruna, na Suécia, digital twins ajudam a gerir infraestruturas subterrâneas de forma mais eficiente, promovendo estratégias sustentáveis que minimizam a pegada de carbono.
Na área da saúde, a IA tem igualmente tido um papel transformador no que se refere aos cuidados prestados aos pacientes e à melhoria da eficiência dos profissionais. Um exemplo promissor é a sua aplicação na deteção de hemorragias cerebrais, uma condição potencialmente fatal que exige uma intervenção imediata. O diagnóstico enfrenta desafios significativos, como a interpretação complexa das imagens médicas e a escassez de especialistas em radiologia, principalmente em situações de emergência. Para endereçar este problema, foi possível desenvolver uma solução baseada em IA, em colaboração com o Hospital Universitário de Helsínquia, capaz de analisar tomografias computorizadas da cabeça com elevada precisão. Os algoritmos identificam anomalias e classificam casos urgentes, cobrindo mais de 99% das hemorragias cerebrais agudas e garantindo diagnósticos rápidos e precisos.
O impacto da IA na saúde estende-se à investigação científica e biotecnológica. Processos que antes levavam décadas a concluir podem agora ser realizados em poucos anos ou meses. A descoberta de novos tratamentos e vacinas, como soluções contra a malária, beneficiou significativamente desta aceleração proporcionada pela IA. Governos e instituições têm também conseguido reduzir custos e otimizar recursos nesta área crucial.
Os poderes da IA não se esgotam, mas a verdade é que a sua adoção não está isenta de desafios éticos e sociais. Uma das maiores preocupações das organizações passa por garantir que as decisões tomadas por algoritmos sejam transparentes e compreensíveis. A opacidade dos sistemas de IA pode perpetuar ou exacerbar preconceitos, aumentando as desigualdades já existentes. Assim, torna-se imperativo que as organizações adotem práticas rigorosas para assegurar o uso responsável e ético da IA, colocando sempre o bem-estar humano como prioridade.
A IA é igualmente uma ferramenta poderosa para promover a diversidade, equidade e inclusão (DE&I). As ferramentas de IA podem reduzir o preconceito inconsciente nos processos de recrutamento, selecionando candidatos com base na experiência e nas competências, em vez de fatores demográficos como a idade, a etnia ou o género. Na área da saúde, a IA pode gerir as diferenças baseadas na origem e no género nos tratamentos e diagnósticos, promovendo um atendimento mais equitativo. Paralelamente, a IA pode ser utilizada para promover a inclusão ao melhorar a acessibilidade, através da criação de tecnologias assistidas e design inclusivo.
Gradualmente, a IA pode derrubar barreiras e melhorar a qualidade de vida global. No entanto, as possibilidades aqui apresentadas são apenas algumas das formas de a usar para construir um mundo mais justo e igualitário. A criação de um ecossistema colaborativo, que promova o debate entre organizações, governos e especialistas é essencial para garantir que estas tecnologias são usadas de forma ética e responsável, permitindo que o seu potencial de contribuir para um futuro mais justo e sustentável para todos seja alcançado.
Ao equilibrar inovação com responsabilidade, a IA pode tornar-se numa força poderosa para o bem comum, consolidando-se como um pilar de transformação social e ética na construção de um mundo melhor.